MELINDRE
Porque Melindramos?Vamos iniciar a reflexão tentando entender o que é o Melindre.
Melindre é um estado emocional negativo, de mágoa e ressentimento causado pela baixa tolerância às frustrações, ou seja, seria a falta de adequação da pessoa, para enfrentar de uma maneira melhor e mais branda, as atitudes das pessoas e situações que não lhe agradam, que não correspondem às suas expectativas.
O melindre sem dúvida alguma, é o maior responsável pelas dificuldades nos relacionamentos.
Para compreendermos porque Melindramos tanto, precisamos voltar lá atrás em nossa história de vida.
Temos até os dias de hoje, impressos no profundo da alma, as marcas dos instintos primitivos de sobrevivência, de preservação e defesa, pelas necessidade impostas pelas adversidades da época, para a sobrevivência humana.
O instinto de sobrevivência por sua vez, gera o individualismo humano, por impulsionar o ser, à busca das coisas pessoais, relativamente às necessidades sexuais, anseios e vontades individuais, que procura sempre ver atendidos.
Dos instintos primitivos originou-se o Egoísmo humano.
O instinto de preservação obviamente é necessário à manutenção da vida, pois se assim não fosse, as pessoas não se cuidariam, nem preservariam à própria existência.
Mas com a evolução da espécie humana, o instinto deve servir apenas para isto, para a manutenção e defesa da integridade da vida, no mais, deve o Homem buscar cada vez mais abandonar o primitivismo dos instintos brutais para o desenvolvimento da emoção, da moral e da espiritualidade, ou seja, a alma foi criada para o progresso incessante.
Porque tudo no mundo está sujeito à Lei de progresso, inclusive o ser humano no que diz respeito à moral, costumes e espiritualidade.
Porém a humanidade até os dias atuais, tem grande dificuldade em combater o egoísmo resultante dos instintos primitivos que estão arraigados na alma, e os indivíduos têm conservado no mais das vezes, o Individualismo em suas condutas de vida.
Em suma, o individualismo e Egoísmo conduzem à alma ao melindre que é sua consequência.
Provavelmente, todos têm ouvido falar muito nesta época de pandemia, que essa situação foi causada pelo egoísmo humano, e sobre a necessidade do despertamento da consciência para o bem e fraternidade e consequentemente sobre a necessidade de combater o Egoísmo na alma.
Nos parece bem razoável pensar que tem uma consciência adormecida, e age com Melindre, quem alimenta o sentimento de vitimismo em um caso como esse, de quem quer achar culpados para a situação que vivencia, ou quem ainda acha que se trata de um " acaso" toda essa situação, como se estivéssemos jogados no vento, sem Leis Divinas que nos oriente e nos impulsione para os melhores caminhos.
E realmente Todos nós sabemos que temos dificuldades, falhas e defeitos que precisamos corrigir, e por isso estamos vivenciando esta situação.
Porque por mais que tentemos negar ou justificar nossas atitudes não tão nobres e positivas, sabemos quando estamos errados.
Temos a noção do bem e do mal, todos sem exceção, porque as Leis Naturais, que são as Leis de Deus, estão inscritas na consciência de todos nós desde a nossa criação, então todos temos condições de distinguir o certo e o errado.
Sabemos quando erramos, e os nossos sentimentos necessitam de burilamento para superarmos os instintos primitivos e substitui--los por sentimentos mais nobres que dignificam a alma.
Para termos uma vida mais reta, harmônica e feliz, é necessário desenvolver bons relacionamentos. Precisamos nos relacionar bem para sermos mais felizes.
Se desejamos resolver nossas dificuldades e conflitos é preciso primeiramente a compreensão de nossas reações e sentimentos.
Então, porque nós nos melindramos ou nos ofendendo tão facilmente? Porque somos tão suscetíveis em relação à tudo que nos cerca?
Evidentemente que a ofensa decorre do processo natural e instintivo da Mente, por conta do instinto de preservação e defesa como falamos, e é positivo e necessário até certo ponto, porque não devemos, certamente aceitar tudo o que ocorre, existem ações ruins que exigem defesa.
Então é normal certa mágoa quando sofremos uma ofensa ou um desgosto, o problema é quando a reação é exagerada, desproporcional , daí se vê instalado o Melindre.
Porque a ofensa natural tem caráter transitório, passa após uma atitude de defesa ajustada ao tamanho da ofensa.
Mas existe muita diferença entre a ofensa natural e o Melindre.
O melindre é o estado afetivo doentio, é a reação neurótica e desproporcional às ofensas, que leva à mágoa e ressentimento, que causam tantos males ao corpo e ao espírito e dificultam as relações humanas.
Então é aí que se faz necessário o burilamento, o trabalho de libertação.
É necessário desenvolver primeiramente a humildade.
Podemos nos questionar: Se nascemos para o bem, para o Amor, para ser bons, porque erramos tanto, porque agimos e reagimos tão mal às situações e pessoas? porque melindramos tanto?
Como estamos vendo, Reagimos mal e temos dificuldade nos relacionamentos por nos sentirmos prejudicados,
ofendidos desproporcionalmente às agressões, porque temos orgulho e nos achamos intocáveis, permitindo que a mágoa e ressentimento se instale em nossa alma, e isso resulta do egoísmo e orgulho predominante em nós.
A pessoa orgulhosa tende a se magoar com tudo que vá de contra à seus interesses e expectativas, ao que lhe é vantajoso, sempre se achando melhor e com mais direitos que os outros.
Sobre isso podemos ver em Obras Póstumas de Allan Kardec, Primeira Parte- em " O Egoísmo e o Orgulho", página 225:
" Julgando -se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por Orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta".
O hábito vicioso e arraigado na alma da não tolerância à contrariedade, pode advir de uma má educação na infância, onde nada lhe foi negado, mas no mais das vezes, esse hábito se origina em encarnações passadas, onde pelas circunstâncias em que vivia, a pessoa obtinha todos os seus interesses pessoais atendidos a qualquer custo.
Quando no decorrer das várias encarnações o indivíduo ao invés de adequar sua vida, cedendo quando necessário também aos interesses do semelhante, agindo com mais solidariedade, aproveitando as oportunidades para desenvolver a empatia, utilizou de todo seu potencial para ver seus desejos e anseios realizados a qualquer custo, a alma continua cultivando o personalísmo e egoísmo, levando vida afora o hábito de não admitir contrariedades, ou seja, desenvolve baixa resistência à aceitar tudo o que venha de contra à seus interesses egoístas.
Esse hábito certamente alimentou na alma o Egoísmo de se achar melhor do que os outros, sempre colocando seus interesses acima dos interesses alheios.
Essa atitude é fruto da imaturidade psicológica e falta se espiritualização.
Por esta razão, a inteligência Divina coloca o ser humano em condições encarnatórias nesta vida para burilar este vício do egoísmo, porém no mais das vezes a pessoa se ressente quando as circunstâncias e as pessoas não lhe satisfazem em seus desejos egoístas.
Além dos dramas de a pessoa se ver sempre contrariada e magoada, pode gerar grave doença mental que é a psicopatia.
Então percebemos os motivos pelos quais necessitamos de adversidades na vida, para fins de crescimento espiritual.
Então para combater esse hábito do melindre, é necessário a aceitação das adversidades da vida, revertendo esses acontecimentos em favor próprio, como aprendizado e lição.
É dever de todos aproveitar a oportunidade da existência aqui na Terra, para ajustar-se às Leis Naturais e isso é a única forma de alcançar a paz individual e nas relações.
É preciso trabalhar pela renovação do campo dos nossos interesses, saindo do campo do individualismo para o campo do bem comum.
E esse momento que vivenciamos é o momento ideal para isso.
Ir de contra essa necessidade, somente trará dor e sofrimento.
Neste aspecto, o perdão se faz necessário, a fim de criarmos empatia junto de nossos semelhantes, compreendendo que cada pessoa se encontra em determinado estágio evolutivo, com dificuldades semelhantes às nossas, e essa atitude nos predispõe mais facilmente à tolerância , à compreensão e ao perdão.
Devemos entender que ninguém vive para atacar a outrem, todo ato ofensivo é sinal de desequilíbrio.
Todos estamos aqui para o despertar da consciência, mas cada qual tem o seu tempo de despertamento, e isso deve ser respeitado, pois o despertar é tarefa indivídual e intransferível.
Desta forma, cada pessoa deve trabalhar pelo próprio despertamento e evolução, ao invés de manter o hábito da crítica em relação à conduta alheia.
O ser caminha da barbárie à luz, plenificação é o amor universal, deixar-se dominar pelo egoísmo é estar mais perto do ponto de partida do que da chegada.
Ademais, como já refletimos, todos temos o conhecimento do bem e do mal, sabemos quem somos, quando estamos certos ou errados, então diante de alguma crítica alheia, procuremos reagir com mais inteligência emocional.
É sempre importante analisar os motivos da reclamação e crítica por parte de outrem, com humildade e sinceridade, à fim de constatar se existe alguma razão ou fundamento na crítica.
Se constatado que existe algum fundamento, é importante voltar atrás procurando corrigir o equívoco cometido, modificando atitudes, pedindo desculpas, porém caso após análise sincera, concluir que a acusação ou crítica foi injusta, se despreocupe, não de importância, quando sabemos quem somos, então é importante não dar tanto peso às opiniões alheias.
Porém, tendo em vista o orgulho e egoísmo que ainda carregamos arraigados em nossas almas, somos muito iludidos em relação à nós mesmos, então é preciso uma interiorização para que não nos enganemos em relação às nossas próprias atitudes.
Então para esclarecer isso e encerrar a nossa reflexão, eu trouxe as questões 919 e 919-a de"O livro dos Espíritos", respondidas por Santo Agostinho, que nos diz seguinte:
919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal?
— Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.
919-a. Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso?
"— Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma. Aquele que todas as noites lembrasse todas as suas ações do dia, e, se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá. Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que fito agistes em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que censuraríeis nos outros, se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém? Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo e por fim contra vós mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa consciência ou indicarão um mal que deve ser curado".
Desta forma, devemos fazer essa auto-análise diária, conforme nos orienta Santo Agostinho, tendo sempre em mente que devemos agir com os outros da mesma forma que gostaríamos que conosco os outros agissem.
Com certeza, agindo assim, afastaremos o terrível hábito do melindre de nossas atitudes de vida, passando a ter saúde física e emocional e desenvolvendo bons RELACIONAMENTOS.
Devemos todos os dias pedir a Deus que possamos aprender cada vez mais pelo amor, e cada vez menos pela dor.
Paz e Luz a todos.
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